Voltar das férias

Wanderlino Arruda

Ninguém sabe explicar como e porque o tempo de férias, gasto sem fazer nada, passa tão depressa e de modo tão imperceptível. Os dias e semanas voam encantados, bailando sobre nossa alegria pelos momentos que sobram da tribulação do sempre e do constante. Humberto de Campos, em uma de suas inesquecíveis crônicas de fim de vida, lá pelos idos de trinta e três, dizia que o tempo de alegria tinha a velocidade das borboletas, a agilidade multicolorida de asas que vão aqui e acolá, saltitantes, a zombar da tristeza e da dor, que rastejam como lentas e lerdas lagartas. A alegria é como o perfume, plena de presença, mas, sempre fugaz, passageira, marcando um fluxo de bem-estar. Alegria é como o azul ou qualquer outra cor, que só aparecem com a luz, o tênue espaço de claridade.

Teço estas considerações sobre o tempo e sobre a alegria, para dizer que não vi passar os meses de ausência das publicações de crônicas nos jornais, quando não sei como nem de que ocupei todas as minhas horas de folga. Ano passado, em Brasília, eu terminava uma estafante tarefa e organizar um curso de comunicação para colegas mais novos do Banco do Brasil, mês e meio que realmente me tomaram todos os minutos de horário útil. Juntados aos trabalhos do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e dos muitos sites na Internet, é justo e normal o acúmulo de cansaço e disposição para o descanso. Janeiro, ressaca das festas do Natal, início e fim de viagens a trabalho para participar de encontros rotários e acadêmicos, tudo se transforma em mais um motivo de acomodação. Meio do ano chega e acabam-se as desculpas, esvaem-se os sonhos de folga e mãos no serviço, que o trabalho não espera por ninguém. É claro que com tudo isso, não precisava ficar ausente dos jornais, como não tenho ficado até aqui em todos os muitos anos de colaboração.

Desculpas não valem. Nenhum motivo pode ou deve obrigar a ausência deste convívio tão doce de cada dia de semana e de manhã de domingo. É como um som de piscina a revigorar o corpo e a alma, tonificando a amizade de quem lê e quem escreve, mesmo quando quem escreve não escreve lá tão grandes coisas... Aqui estou, já quase na Primavera, tempo-início de novas jornadas, ano de muitas comemorações. Tempo histórico, marco de muitas lutas de velhos e de novos, velhos idealistas, e novos do profissionalismo, que escrever, hoje já se tornou trabalho de hora marcada, de jornadas inteiras, com salário em fim de mês. Tempo e saudades dos mais antigos, ainda diletantes, apesar dos cinqüenta anos de imprensa, pois, em jornais e revistas estou desde 1954, recém-saído do Grêmio “João Luiz de Almeida” e do Tiro de Guerra, lugares onde o Waldyr Senna também fundava e escrevia jornais.

Que esta volta tenha sempre o sabor de todas as idas e vindas das letras de forma. Que outros companheiros de páginas e colunas também venham, logo e sem demora. Que cheguem para perto Yvonne Silveira e Karla Celene. Que D. Ruth Tupinambá, Maria Luíza e Amelina Chaves apareçam muito mais vezes. Cheguei e espero todos os meus colegas, para enchermos estas páginas de alegria, de sonhos e, como não pode deixar de ser, até de um pouco de loucura, santa loucura de todos nós escravos das letras...

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros