Sucesso ou Felicidade?

Wanderlino Arruda

Tenho pena das pessoas que vivem sempre em estado de prontidão, à espera de um alarme, de um sinal, de um apito, pressionadas pelas exigências criadas pela própria vida de obrigações, ou pelas coações ou forças interiores, espirituais ou psicológicas, emitida a cada minuto. Tenho pena das pessoas que não aprenderam ou não querem aprender a desarmar-se na hora certa, numa descontração natural. E tenho pena dessas pessoas, infelizmente, no mundo de hoje, quase que fico com uma multidão de amigos nesse rol imenso de gente que só vive no meio de angústias. E não é bom, porque a vida é feliz ou infeliz, dependendo do que cada pessoa faz dela, da maneira como age ou deixa de agir.

Confesso que também não sei se há amigos por aí com pena de mim, achando que estou dando conselho que não consigo obedecer, uma vez que também não me escapo da pressa, da multidão de compromissos, do que é fazer mais do que necessário, daquele achar que existe pouco horário pela frente para executar todas as tarefas do mundo num tempo curto. Mas como conselho não é para seguir, é para dar, e dar de graça, que nunca se viu alguém pagar conselhos. “Faça o que mando, não olhe o que faço”, tem sido um treiteiro ditado brasileiro, coisa da nossa arguta formação misturada de três raças nem sempre sérias.

O nosso mal é que queremos ou precisamos valorizar demais o sucesso, a competição, vitória que não se sabe qual será ou poderia ser. Nosso mal é não buscar somente a felicidade, como fazia antigamente o artesão, que visava apenas ao bem-estar, um sossego tranqüilo de consciência, uma calma que oferecia muito mais qualidade de vida. Nunca me esqueço dos velhos sapateiros, das mulheres rendeiras, das cozinheiras que faziam cuscuz, dos lavradores de enxada e arado de tração animal, dos consertadores de cerca. Não me esqueço do tempo de futebol-arte sem tanta correria para passar na frente dos competidores. Essa tal filosofia do “importante é ter êxito” da era pós-industrial, instilada pelos donos de empresas, é que está atrapalhando tudo.

Dizem que o homem tem angústia é pelo fato de ser o único animal que sabe da própria morte, ou melhor, que tem consciência de que vai morrer. É possível que isso lhe dê o aspecto altamente competitivo em que marca cada um dos seus dias, com a pressa de vencer, de conseguir o equilíbrio financeiro, a segurança, a posse, o prestígio social, o mando, infelizmente tudo muito relativo, pois nunca ninguém sabe o que é realmente suficiente a ponto de parar a luta. Não seria melhor voltar para o lado lúdico da vida? Por que não sempre buscar só a felicidade? Porque não imitar nossas crianças tão pouco preocupadas com a vitória imediata e muito mais envolvidas com o misterioso gosto do viver alegre?

Não se pode dar todas as soluções. Mas de uma coisa creio que estou muito consciente: é preciso urgentemente aprender a viver a vida!

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros