Olyntho Silveira, 99 Anos

Wanderlino Arruda

 

Quanto tempo Olyntho Silveira, quanto tempo, amigão, estou lhe devendo um comentário sobre seu livro “Cantos Chorados”! Será que, intimamente, eu estava temendo dizer ao quase centenário Olyntho que sua felicidade de ter sempre ao seu lado a querida Dona Yvonne, lhe tirou o mérito de ser reverenciado? Será que eu temia tanto discordar do amigo, a quem prezo tanto a inteligência e a lógica, agora, quase isolado de sons e de luzes numa cadeira de rodas e dentro de casa?

Quero dizer-lhe que os seus “Cantos Chorados” me fizeram triste com amargor da primeira parte, um pranto tardio, confissão perigosa para jovens, quase fel inesperado para quem conheceu sempre a alegria de viver, o interesse pela vida e pelas coisas, você um formal criador de admiração por toda parte. Os versos “Eu vim passando pelo tempo, / porém sempre chorando, / antevendo o fracasso” estão realmente bem tristes! Afinal, o que preocupar tanto com a religião dos outros, se martirizando com as mudanças, com a evolução natural, que nem você, nem ninguém pôde ou pode segurar no tempo ou no espaço? Afinal, você diz no “Credo” acreditar no criador dos mundos, “Chamem-no Deus ou mesmo natureza”!

Nada a ver com o que os outros pensam ou como agem, transformando até alegrias em desilusão. Veja como a segunda parte do seu livro é toda uma certeza no destino humano! Maria Luísa, a neta, começou para você novo ciclo de vida, a inocência, o sonho, a luminosidade do futuro. Depois dela você passou a saber que a vida é prece alegre como luzes e brisas, como rios, como pássaros, como árvores em tempo de chuva e em tempo de flores. Deus, Olyntho, traz sempre uma mensagem de esperança de novo encontro, novo reencontro. A vida é eterna, luz que não se apaga, indescritível soma de momentos, muitos deles supremamente felizes e gratificantes. Você mesmo deu a resposta no soneto “Remorso”, quando fala nas “lágrimas que a noite chora, / cintila na florinha que reponta / escondida num galho, donde aflora”. É a beleza da existência, o universo numa gota de orvalho, que Olyntho poeta sabe ver e apreciar.

No “Canto a Morfeu”, você dispensa de alguém lhe dar a chave que venha abrir as portas do futuro. “Quando à noite vens / devagarinho os olhos meus cerrar, / ao despertar-me eu fico a avaliar / o simbolismo terno que deténs”. Passe, amigo, do fugaz ao eterno e eis a continuidade sublime da vida, fluente e bela, um sonho que nunca se acaba.

Antes de terminar, quero dizer-lhe mais uma coisa: diferenças ficam apenas no plano das idéias, no fundo, ou nos sonhos. A forma, o visual, as sonoridades, o estrato - como diz sua eterna Yvonne Silveira – permanecerão para sempre, nos nove ou nos noventa e nove!

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros